Eu até consigo escrever assim, mas me torno mais lento, meus pensamentos fogem com uma frequência maior. A escrita, para mim, sempre foi algo intimista. Mesmo quando escrevo para um público maior penso num tipo de leitor ideal. Idade aproximada, bagagem cultural aproximada. É como se, na verdade, eu estivesse escrevendo para os amigos. Por causa disso sempre lembro de um trecho de Três Alqueires e uma vaca, livro do Gustavo Corção que em certo momento diz:
“Foi Stevenson que assim escreveu: ‘Cada livro é, num sentido profundo, uma carta particular aos amigos do escritor. Somente eles apreendem a significação inteira, descobrem a notícia íntima, as afirmações de amor, as expressões de gratidão, espalhadas para eles em cada linha. O público é apenas o generoso patrocinador que se incumbe das despesas postais.’ Por aí se vê que a ideia não é nova, nem minha. Discordo porém de Stevenson no ponto em que ele exclui a possibilidade de uma compreensão geral e comum.”
Acho que eu sempre fui assim, mesmo quando escrevo matérias jornalísticas tenho em mente alguém ou algum grupo específico. O problema é que a maioria deles não lê o que escrevo.
Vez por outra até envio para alguém um texto qualquer que acabei de escrever. A resposta é sempre um ‘legal’, que demonstra que o indivíduo não leu ou não entendeu. Não há problema, escrevo porque a necessidade assim me obriga.
Recordo-me de uma famosa entrevista que a escritora Rachel de Queiroz deu a uma jornalista sobre suas preferências. Quando Rachel lhe confirmou que preferia o jornalismo à literatura, a jornalista perguntou, perplexa, por que ela continuava com a literatura. Rachel perguntou: “você já pariu? ”, a jornalista respondeu de forma negativa e a escritora concluiu: “Quando se fica grávida é imperativo parir”.
José Fagner Alves Santos
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