O legado de Marcão vive



Sonhei que estava num evento com vários colegas jornalistas, a maioria havia feito faculdade comigo. No meio da turma encontrei o Marcus Vinícius Batista, o Marcão. Ele havia sido nosso professor de História de Jornalismo, Ética e editou e coordenou a revista Arco (revista laboratorial que unia as turmas de Arquitetura e Comunicação) em parceria com o Eduardo Cavalcanti. Marcão havia se tornado um grande amigo. As conversas pelos corredores da faculdade, nos encontros aleatórios pela cidade ou mesmo pelas redes sociais, fortaleceram certa aproximação.


Tinhamos em comum o gosto pelo jornalismo literário, pela revista piauí, pela Eliane Brum, pela Júlia Dualibi, Malu Gaspar, Fernando de Barros, pelo Gay Talese, Hunter Thompson, Tom Wolfe, Joan Didion e tantos outros.

Fiquei muito feliz em encontrar o Marcão ali naquele evento. Ele perguntou pelo meu podcast e eu o convidei para gravar um episódio comigo, "rapidinho, a gente encosta num canto ali. Estou com o gravador no bolso", tentei argumentar.

Ele respondeu perguntando: "Por que você na vai lá em casa, e a gente grava com calma?"

Eu fiquei todo alegre. Sentia certa urgência em gravar com ele, sabia que precisava registrar uma conversa com ele, mas não lembrava que Marcão havia morrido de Covid-19 em 14 de julho, de 2021.

Acordei chorando, pensando na falta que Marcão faz. Ele havia criado, em parceria com a esposa - Beth Soares -, uma editora para publicar suas obras e a dos amigos. Era o tipo de cara que não esperava a oportunidade aparecer, ele criava a ocasião.

Marcão ainda está entre nós, em tudo que nos ensinou, nos livros que escreveu, nas conversas que nos proporcinou, na gentileza com a qual sempre travou seus diálogos. O legado de Marcão ainda vive. Sei que ele não pensaria duas vezes para topar meu convite. Gravaria o podcast com a mesma simpatia e bom humor que lhe eram comuns.

Amanheceu chovendo em São Paulo.


José Fagner Alves Santos

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