Jon Fosse: um escritor norueguês que dá voz ao indizível



Jon Fosse é um escritor norueguês que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2023 por suas peças e prosa inovadoras que dão voz ao indizível. Seu romance “Melancolia” é considerado o mais denso e complexo de sua obra, com 400 páginas. Dois breves romances de Fosse foram recentemente lançados no Brasil: “É a Ales”, de 2004, pela Companhia das Letras, e “Brancura”, livro mais recente de Fosse, de 2023, pela Fósforo. Jon Fosse é um escritor bastante ativo, atuando em diferentes gêneros — não só o romance, mas também a poesia, a literatura infantil e o teatro — desde o início dos anos 80, quando fez sua estreia literária.

Em “É a Ales”, encontramos as relações familiares que se fazem e desfazem ao longo das gerações, mediadas por paisagens, objetos, nomes próprios e sobrenomes passados adiante, celebrações e tragédias. Em “Brancura”, um homem dirige seu carro sem saber a razão, até parar diante de uma floresta. Ele sai do carro e segue caminhando floresta adentro, enquanto tenta encontrar justificativas para o que faz. O clímax da narrativa é quando a “brancura” se revela, uma aparição que não é explicada, que sofre metamorfoses e que leva o narrador ao que parece a conclusão de seu percurso. A obra de Fosse, em toda sua extensão, está envolvida nessa dinâmica delicada que leva do específico ao universal, e vice-versa, algo que é intensificado quando se observa a difusão de seus livros em vários países.

Uma questão recorrente no debate sobre literatura e seus temas aparece nos dois livros de Fosse: as relações entre o local e o global, entre as condições de vida específicas de certa comunidade e a descrição de sentimentos ou estados de ânimo que seriam, potencialmente, “universais”. No caso de Fosse, o Nobel age como uma sorte de carta coringa, possibilitando a eliminação momentânea desse esforço de mediação entre o contexto de surgimento da obra e o contexto de recepção.

Cada contexto de recepção acrescenta um ponto a esse debate, enquanto encontram um consenso: os autores do passado vistos como influências diretas no estilo e na atmosfera dos livros de Fosse — Samuel Beckett e Thomas Bernhard. Aliás, é possível dizer que o Nobel de Fosse é mais um triunfo para a conta de Bernhard, que não chegou a receber o prêmio, mas foi responsável por uma obra cuja inédita força estética foi determinante para o estilo de vários laureados.

José Fagner Alves Santos

Postar um comentário

José Fagner. Theme by STS.