Amadurecer, para mim, sempre foi um processo lento e gradativo. Eu até gostaria de mudar completamente de uma hora para outra, a partir de um único evento, mas eu careço de pequenas mudanças infinitesimais. Espero que a recente chegada à meia idade acelere o processo de aprendizado.
Começo a redigir essas linhas às 19h e 45 minutos. O vizinho da frente acaba de desligar o aparelho de som, que tocava reggae no último volume. O vizinho da parte mais abaixo ainda insiste, tocando aquilo que eles chamam de “paredão”. O som se mistura com o de alguns fiéis de uma igreja logo acima, que cantam à capela “Faz um milagre em mim”, composição do Regis Danese.
Segundo o site meteorológico, faz 25º C em Ipiaú neste exato momento. A energia térmica acumulada nas paredes, no entanto, deixa a sensação de forno pré-aquecido para quem está dentro de casa. Meu pescoço está todo grudento por causa do calor.
Uma discussão com a minha mãe ainda há pouco deixou o clima bem desagradável. Eu percebi que ela estava nervosa, mas resolvi levar o caso no deboche. Brinquei com alguns assuntos que, ao que parece, são sensíveis para ela. Resultado: agora ela está emburrada, evitando falar comigo. Em algum momento eu precisarei aprender a calar e ouvir, mesmo que aquilo que a outra pessoa esteja dizendo não faça sentido.
Há mais de 24h estamos sem água, de novo. Na primeira semana em que cheguei aqui, passamos oito dias sem. Sinto minhas costas grudando na parede da cama (escrevo isso aqui sentado na cama, com o notebook no colo e as costas apoiadas na parede). Eu até queria ler alguma coisa, mas sei o quanto seria difícil manter a concentração com esse barulho e esse calor.
Ontem eu havia marcado de visitar um amigo. Disse para ele que iria em sua casa hoje, na parte da tarde. Ao chegar lá, recebi uma mensagem no WhatsApp:
“Oi Fagner, eu tô na rua, tive que levar Spike no pet shop pra banho e tosa” (sic).
Voltei para casa embaixo daquele Sol inclemente. Depois das 20h, recebi uma mensagem dele dizendo que “queria só ver se eu não reservaria um tempo para” vê-lo.
A verdade é que, os antigos amigos estão ocupados cuidando das suas vidas e nem sempre conseguirão dar a atenção que era comum em outros tempos. Minha mãe, por sua vez, só queria alguém para desabafar sem ser julgada. Eu, por outro lado, estressado e cheio de arrogância, acabo tendo dificuldade no simples convívio social.
O calor e a falta d'água também não ajudam, mas isso não pode servir de desculpas.
Vamos ver se dessa vez eu aprendo.
Vamos ver se dessa vez eu aprendo.
José Fagner Alves Santos
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