Vai e volta



E eis que, às sete horas em ponto, começo a ouvir o barulho da água caindo. Fui conferir na torneira da cozinha e o fluxo estava constante. Torço para que não seja um retorno temporário. Apesar do calor ter sido bem mais suportável hoje, não é fácil ficar sem água por tantos dias.


Soubemos agora à tarde que, a moça que estava gritando a procura de Safira é uma viciada. Estava em surto e chegou a incomodar diretamente uma vizinha, sugerindo que esta havia se apoderado de sua cachorra.

Ainda agora, quando escrevo estas linhas, o som alto vindo das casas vizinhas continua a incomodar. Foi assim durante todo o período vespertino. Em alguns momentos, como é muito comum, as diferentes canções, vindas de diferentes pontos, mesclavam-se num barulho incômodo do qual só dava para discernir as diferentes baterias eletrônicas.

Minha mãe fez um bolo de cenoura como forma de ocupar o tempo. Fez uma cobertura de cacau, que deveria ter sido de chocolate. Não ficou como deveria, mas o sabor estava interessante.

Mais uma discussão com a minha mãe decorrente das minhas constantes reclamações. Ela tem se mostrado muito magoada com a situação. Ao que parece, eu ainda não tenho maturidade para lidar com o que está acontecendo. Mas farei um esforço maior para mudar minha linha comportamental.

Ela estava nos fundos ainda há pouco, tentando aproveitar que a água voltou para colocar as roupas na máquina. Mas já veio aqui reclamar que o fluxo de água não é o suficiente.

Agora comecei a ouvir o cântico que vem de uma igreja aqui perto. Alguma fiel desafinada resolveu soltar a voz. Ela está tão desafinada que até parece piada. O barulho se mistura com todas as outras canções vindas dos diferentes aparelhos de som, dos diferentes vizinhos.

Minha cabeça está cheia de espinhas. O cabelo está grande, e o calor constante só aumenta a oleosidade da pele. Vou contar as moedas e ver se tenho o suficiente para cortar o cabelo amanhã. Um outro vizinho acaba de ligar o aparelho de som no volume máximo.

Minha mãe me avisa que água parou de cair novamente. Será uma longa noite.








José Fagner Alves Santos

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