Salvação Exclusiva, Pirâmides e o Grande Golpe da Eternidade


Sabe aquela história de que a vida não acaba quando a gente morre? Que tem uma parte da gente que continua viva, tipo alma penada, esperando o veredito final? Pois é. Depois que você bate as botas, segundo muita gente, rola um julgamento espiritual. Sim, isso mesmo: um tipo de Procon celestial analisando se você foi gente boa ou só fez besteira. Se passou no teste: céu, luz, festinha VIP com os santos. Se não... aí meu amigo, é caldeirão no modo turbo.

Aí você pensa: “Ah, isso aí é coisa de igreja evangélica ou do pessoal do terço.” Também. Mas não só. Essa ideia já era moda lá no Egito Antigo, muito antes de Jesus nascer ou Maomé descer do morro. Os caras do Nilo já falavam de alma imortal, julgamento e vida após a morte quando o povo daqui ainda não tinha nem aprendido a fazer farinha.

Acreditar que existe uma "contabilidade espiritual" é reconfortante. Se o mundo tá de cabeça pra baixo, se o político rouba, o vizinho engana e o gol do seu time é anulado por puro azar, pelo menos tem um consolo: uma hora a justiça vem. Nem que seja no outro plano.

Mas calma, essa ideia de céu pra todo mundo não foi sempre assim, não. No comecinho do Egito, só o faraó tinha “passaporte carimbado” pro além. Era tipo o dono do camarote do além. Vida eterna? Só se fosse rei. O resto? Trabalhava, morria e virava adubo de pirâmide. Literalmente.

E falando em pirâmide: a maior de todas, a do faraó Quéops, era basicamente um condomínio de luxo pós-morte, com vaga garantida entre as estrelas. O pessoal acredita que mais de 10 mil pessoas trabalharam na construção. Imagina organizar um mutirão desses com o pessoal da obra e o Sindicato pegando no pé? E tudo isso pra quê? Pra garantir que o chefe fosse fazer check-in com os deuses.

E não era só prédio que levavam pro outro lado não. O rei Djerr, por exemplo, foi enterrado com mais de 300 funcionários. Sim, executados só pra continuar servindo o patrão do outro lado. Hoje isso daria manchete no Jornal Nacional com direito a CPI no Senado.

Agora pensa: imagina se, quando o Lula ou o Bolsonaro morressem, todo o ministério, assessores, e quem trabalhou no gabinete fosse junto? E ainda erguessem uma réplica do Cristo Redentor só pra garantir que o sujeito fosse bem recebido no paraíso político. Pois é, bizarro pra nós. Mas no Egito, isso era rotina.

Só que nem todo mundo engolia isso calado. Lá em Gizé, onde rolava a construção das pirâmides, trabalhadores deixaram pichações sarcásticas nas pedras, com nomes tipo “Os Bêbados do Rei”. Era a forma que o peão tinha de protestar. Porque pode faltar salário, mas nunca falta ironia.

Mais tarde, por volta de 2300 a.C., surgiram os Textos das Pirâmides. Não eram salmos nem sermões, mas sim um guia espiritual técnico, com feitiços, instruções e "macetes" pra garantir que o faraó não se perdesse no caminho pro além. Tipo um manual do Google Maps espiritual, só que entalhado em pedra.

Esse foi o embrião de tudo: julgamento, alma, salvação. O cristianismo e outras religiões só pegaram essa ideia, deram uma popularizada, e transformaram em plano coletivo. O Egito inventou a primeira classe do voo pós-morte. Séculos depois, vieram os “voos comerciais”.



No fim, o que move o ser humano não é só o medo do fim, mas a esperança de que, depois da morte, alguém vai botar ordem na bagunça. Que o malandro vai pagar, o bonzinho vai ser reconhecido, e o pessoal da Lava-Jato vai finalmente ter que dar explicações – mesmo que seja pra Osíris, e não pra um juiz de toga.

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