Num dia qualquer, em meio ao zumbido das notificações que preenchem o cotidiano como sirenes invisíveis, um vídeo de gosto duvidoso chega pelo WhatsApp. Nenhuma legenda, nenhum pedido de desculpas: apenas a mensagem fria e súbita de quem, talvez por tédio, escolheu esquecer que também existe o bom senso.
O gesto — aparentemente banal — carrega em si algo maior. Em uma época onde cabos não mais nos conectam, mas dados invisíveis cruzam fronteiras com a velocidade de pensamento, há uma ausência que inquieta: o discernimento.
Pense numa senhora dos anos 1950, envolta por vestidos de tecido grosso e com um rádio de válvulas em cima da cristaleira. O que diria ela ao ver uma chamada de vídeo entre dois continentes, onde se partilha, não uma conversa sobre o tempo, mas um meme ruidoso?
As ferramentas estão aqui, brilhando como vitrines de um futuro que virou presente. Elas nos permitem reencontrar parentes esquecidos — como o tio-avô que ressurgiu das sombras graças ao Orkut — e resgatar histórias do passado por meio de pixels e emoticons. MSN, aquele salão de bate-papo digital agora extinto, foi palco de reconexões que nem o destino ousou escrever.
Mas, como em toda boa história, há um senão: o uso. Esses instrumentos, desenhados com a precisão dos relojoeiros suíços, muitas vezes se veem à mercê do improviso malicioso. O problema não são as redes, são os dedos. A conexão não é falha: é o humano.
Talese, mestre dos detalhes e da elegância dos gestos cotidianos, talvez encerrasse o pensamento com uma cena sutil — uma mesa de café, um celular sobre ela, e o silêncio entre duas pessoas refletindo se o que compartilham é presença... ou apenas ruído.
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