A crença de que a história avança por inovações radicais é um mito moderno — tão mítico quanto qualquer teologia que a modernidade afirma ter deixado para trás. O que mudou não foi a natureza humana, mas o vocabulário com que descrevemos suas repetições.
A inovação não é uma força libertadora que nos leva a um mundo melhor. É apenas uma fase previsível do ciclo humano de imitação e rivalidade. Sociedades tradicionais temiam a mudança porque viam nela a semente da desordem; sociedades modernas a cultuam porque esqueceram o que o medo queria preservar. Mas em ambas as formas, a lógica é a mesma: seguimos modelos que julgamos superiores, e competimos para superá-los.
A economia de mercado apenas formalizou essa repetição. Empresas “inovadoras” não surgem do nada; começam imitando quem teve sucesso. Só depois, e quase sempre por acidente, aparecem as pequenas diferenças que chamamos de invenções. O mesmo acontece na cultura. A Alemanha industrial copiou a Inglaterra antes de superá-la. O Japão pós-guerra copiou o Ocidente antes de exportar sua própria tecnologia. Coreia e Taiwan repetem o mesmo script. A “criação pura” é uma ficção útil para o marketing.
O que a cultura moderna chama de “inovação absoluta” — ruptura total com o passado — não é mais criativa do que a recusa medieval de mudar. São apenas maneiras distintas de encenar a mesma necessidade mimética, com a diferença de que a modernidade finge que não está imitando ninguém. Nietzsche tornou-se o modelo supremo da recusa de modelos; a vanguarda transformou a “ruptura” em um hábito previsível.
Não existe retorno a uma tradição perdida que pudesse curar essa compulsão, mas também não existe destino final para onde a “novidade” nos conduza. A inovação não é um caminho para a salvação, seja divina ou secular — é apenas mais um episódio no jogo interminável de cópia, variação e esquecimento.
Se há algo a aprender com isso, é que as grandes expectativas associadas ao “novo” são ilusões recorrentes. A história da inovação não é a marcha do progresso humano, mas o registro das maneiras engenhosas pelas quais repetimos velhos gestos com novas ferramentas. O resto é propaganda — e a propaganda, como sempre, é excelente em se vender como novidade.
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